Resenhando
O
Livro Teoria Feminsta: Da Margem ao
Centro de bell hooks, publicado pela primeira vez em 1984 nos convoca para
um entendimento mais amplo do movimento feminista rompendo com os ditames de
uma concepção meramente burguesa do feminino, da competição por espaços de
poder econômico na mesma guisa de privilégios supremacista, branco e
heteronormativo.
hooks
nos desperta para a necessidade de agenda de mulheres negras engajando
todas/todxs quanto considerarem relevante para a práxis revolucionária contra
toda e qualquer forma de opressão e exclusão.
Esta
agenda representativa e formativa nas comunidades, nas ruas, nos centros,
sobretudo nas áreas periféricas é o lastro para a construção da solidariedade
política essencial para o enfrentamento das estruturas socioeconômicas do
necrosistema que tem como combustível o sexismo, o racismo, a homofobia, o
patriarcado, machismo... retroalimentando
a bolha violenta de manutenção dos privilégios de classes da ordem vigente.
A
autora ainda chama nossa atenção para as ciladas burguesas pseudoprogressistas
que tendem a limitar a agenda do movimento feminista ao ingresso das mulheres
brancas no mercado de trabalho, nos postos de mando, na luta por remuneração
equiparada a dos homens na mesma lógica do “necrocpaital” e neste ensejo excluem
homens e mulheres negras ao acesso a empregabilidade digna.
A
proclamada liberdade sexual é fundamental para nutrir as relações humanas de
modo a produzir partentalidades saudáveis, não abusivas, hierarquizadas de
forma violenta e opressiva. Entretanto, “ a guerra dos sexos” não é suficiente
para produção do engajamento coletivo necessário para construção de pautas
comuns.
É
relevante que nós mulheres reivindiquemos a autonomia e liberdade sobre os
nossos corpos, sobre o prazer que nos foi negado, negligenciado pelo
patriarcado, porém, nos libertar sexualmente ainda não é suficiente e não
representa as transformações que almejamos, precisamos avançar para enfrentar o
sexismo e elaborar projetos em que homens, mulheres negrxs, pobres, perifericxs
atuem engajados pelas pautas diversas, distintas, porém comuns.
A liberdade
sexual só pode existir quando indivíduos não são mais oprimidos por uma
sexualidade socialmente construída que têm por base definições biológicas
determinadas da sexualidade: repressão, vergonha, dominação, conquista e
exploração ( hooks, 2019,p. 218)
As
normas sociais de exploração fundadas no patriarcado, no machismo, racismo,
intolerância religiosa tornam-se molas propulsoras na reprodução da violência contra
mulher, já que os padrões sexistas educam homens para colocar sua “virilidade”
acima da dignidade humana e do respeito às diferenças e a diversidade.
A
experiência feminista coletiva na agenda do feminismo negro propõe a formação
dialógica das massas para construção de uma práxis libertadora. Precisamos nos
reunir como povo para concentração nas pautas visando repactuar o interesse,
apoio e participação de mulheres que desconhecem a legitimidade do feminismo
negro no enfrentamento das estruturas opressoras de gênero, raça e classe.
Nossa
ênfase precisa ser na transformação cultural de modo a promover horizontalidade
nas relações desmitificando a parentalidade biológica. Recorrendo a amorosidade
freireana para uma práxis libertária podemos congregar diversidade de corpos,
concepções de mundo e expressões da nossa sexualidade no tecido de uma
sociedade que não se imbrique com ideários heterosexistas, mas na compreensão mútua
fundamentando ação dialógica libertadora da “margem ao centro.”
A
práxis existencial, a ação revolucionária, que está na centralidade do
feminismo negro é pela libertação de todas/todos/todes. É pela construção de
novas estruturas situadas no contraponto do necrosistema, do “necrocapital”.
Em
suma, pelo que lutamos? Por uma sociedade organicamente “ecofeminista”, em acolhimento a diversidade, sustentável, com
justiça social, distributiva e por fim aguerrida na luta pela erradicação das
múltiplas violências de gênero, raça e classe.
hooks,
bell.Teoria Feminista: Da margem ao
centro. São Paulo: Editora Perspectiva, 2019