domingo, 14 de fevereiro de 2021

Feminismo ou Feminismos?


 

Resenhando



O Livro Teoria Feminsta: Da Margem ao Centro de bell hooks, publicado pela primeira vez em 1984 nos convoca para um entendimento mais amplo do movimento feminista rompendo com os ditames de uma concepção meramente burguesa do feminino, da competição por espaços de poder econômico na mesma guisa de privilégios supremacista, branco e heteronormativo.

hooks nos desperta para a necessidade de agenda de mulheres negras engajando todas/todxs quanto considerarem relevante para a práxis revolucionária contra toda e qualquer forma de opressão e exclusão.

Esta agenda representativa e formativa nas comunidades, nas ruas, nos centros, sobretudo nas áreas periféricas é o lastro para a construção da solidariedade política essencial para o enfrentamento das estruturas socioeconômicas do necrosistema que tem como combustível o sexismo, o racismo, a homofobia, o patriarcado, machismo...  retroalimentando a bolha violenta de manutenção dos privilégios de classes da ordem vigente.

A autora ainda chama nossa atenção para as ciladas burguesas pseudoprogressistas que tendem a limitar a agenda do movimento feminista ao ingresso das mulheres brancas no mercado de trabalho, nos postos de mando, na luta por remuneração equiparada a dos homens na mesma lógica do “necrocpaital” e neste ensejo excluem homens e mulheres negras ao acesso a empregabilidade digna.

A proclamada liberdade sexual é fundamental para nutrir as relações humanas de modo a produzir partentalidades saudáveis, não abusivas, hierarquizadas de forma violenta e opressiva. Entretanto,  “ a guerra dos sexos” não é suficiente para produção do engajamento coletivo necessário para construção de pautas comuns.

É relevante que nós mulheres reivindiquemos a autonomia e liberdade sobre os nossos corpos, sobre o prazer que nos foi negado, negligenciado pelo patriarcado, porém, nos libertar sexualmente ainda não é suficiente e não representa as transformações que almejamos, precisamos avançar para enfrentar o sexismo e elaborar projetos em que homens, mulheres negrxs, pobres, perifericxs atuem engajados pelas pautas diversas, distintas, porém comuns.

A liberdade sexual só pode existir quando indivíduos não são mais oprimidos por uma sexualidade socialmente construída que têm por base definições biológicas determinadas da sexualidade: repressão, vergonha, dominação, conquista e exploração ( hooks, 2019,p. 218)

As normas sociais de exploração fundadas no patriarcado, no machismo, racismo, intolerância religiosa tornam-se molas propulsoras na reprodução da violência contra mulher, já que os padrões sexistas educam homens para colocar sua “virilidade” acima da dignidade humana e do respeito às diferenças e a diversidade.

A experiência feminista coletiva na agenda do feminismo negro propõe a formação dialógica das massas para construção de uma práxis libertadora. Precisamos nos reunir como povo para concentração nas pautas visando repactuar o interesse, apoio e participação de mulheres que desconhecem a legitimidade do feminismo negro no enfrentamento das estruturas opressoras de gênero, raça e classe.

Nossa ênfase precisa ser na transformação cultural de modo a promover horizontalidade nas relações desmitificando a parentalidade biológica. Recorrendo a amorosidade freireana para uma práxis libertária podemos congregar diversidade de corpos, concepções de mundo e expressões da nossa sexualidade no tecido de uma sociedade que não se imbrique com ideários heterosexistas, mas na compreensão mútua fundamentando ação dialógica libertadora da “margem ao centro.”

A práxis existencial, a ação revolucionária, que está na centralidade do feminismo negro é pela libertação de todas/todos/todes. É pela construção de novas estruturas situadas no contraponto do necrosistema, do “necrocapital”.

Em suma, pelo que lutamos? Por uma sociedade organicamente “ecofeminista”, em acolhimento a diversidade, sustentável, com justiça social, distributiva e por fim aguerrida na luta pela erradicação das múltiplas violências de gênero, raça e classe.

 

hooks, bell.Teoria Feminista: Da margem ao centro. São Paulo: Editora Perspectiva, 2019

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