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sexta-feira, 17 de julho de 2020

Travessias e Inquietudes: CARIDADE E JUSTIÇA SOCIAL


MiniONU - WordPress.com Mulheres e a pobreza – 21º MINIONU Criador: Timothy Allen  |  Crédito: Getty Images Direitos autorais: (c) Timothy Allen Informação extraída do IPTC Photo Metadata.

Mulheres e a pobreza – 21º MINIONU
Criador: Timothy Allen Crédito: Getty Images
Direitos autorais: (c) Timothy Allen
Informação extraída do IPTC Photo Metadata.


A pobreza e a desigualdade social no Brasil têm raízes históricas no movimento imperialista europeu, suas teorias racistas e xenofóbicas de superioridade e espírito explorador. Os anseios pela propriedade privada, pelo acúmulo de riquezas e bens de consumo foram naturalmente instituídos nas sementes do sistema econômico cuja palavra de ordem é consumir e acumular.

O critério de felicidade no mundo moderno é ancorado nos padrões consumistas irracional, logo, conquistar mecanismos de geração de renda, padrões elevados de vida e aquisições é a receita do sucesso. 

Nesta lógica o “sucesso” é consequência da busca individual, ou seja, o aparato retórico da meritocracia nos diz “se você quer você consegue, lute, seja determinado, e se você fracassou o único e exclusivo responsável é você”.

 A Psicologia, a Filosofia, as Ciências Humanas e Sociais em geral,  nos confrontam a ampliar nossas consciências e perceber-se como seres entrelaçados numa teia social em que aspectos históricos, econômicos, políticos marcam nossas travessias.

Quais questionamentos podemos nos fazer com esta análise? Embora, nossa parcela de responsabilidade implique em empreender esforços, estudar, etc., somos cortados, atravessados por engrenagens de exclusão, machismo, intolerância, racismo, pobreza e desigualdade. Vamos manter o negacionismo da ciência historiográfica e a naturalização desta engrenagem? Estamos prontos para esta conversa?

Parto desta reflexão para aguçar análises, diálogos, que talvez, para alguns seja ofensivo, ou até mesmo perturbador, pelo menos, na minha cabeça é inquietante.

Caridade é sinônimo de justiça social?

Segundo dados publicados pelo IBGE, em 2019, a extrema pobreza subiu no Brasil e já somava 13,5 milhões de pessoas sobrevivendo com até 145 reais mensais. A estatística de miseráveis é crescente desde 2015, invertendo a curva descendente da miséria dos anos anteriores.  

O nosso país é conhecido como um país da caridade. A filantropia no Brasil é um traço naturalístico, entretanto, atrelado ao movimento filantrópico é mínimo ou quase inexistente o ativismo e a luta por justiça social e distributiva.

A falácia da caridade, da partilha em muitas circunstâncias resume-se a atitude egocêntrica que leva muitos de nós a crer que doando alimentos, vestimentas que não usamos ou cobertores aos menos favorecidos, pobres e mieráveis é um modo de aplacar vazio interior ou compensar os egos da assumida classe média que doa uma cesta básica, acumula no closet os cem pares de sapatos, e sente-se confortável por cumprir a obrigação de ajudar os mais pobres sem precisar tocar nos estamentos da pirâmide social e do seu status quo, já que olhar de cima para baixo sempre foi historicamente confortável, a escravidão, por exemplo, é naturalizada em muitos discursos.

Sim, praticar a caridade, dividir e partilhar são atitudes  importantes, contudo, é preciso indignar-se com um sistema econômico e político que nega garantias e direitos fundamentais ao menos favorecidos. É preciso fazer caridade e posicionar-se frente às questões sociais que reproduzem a pobreza e a desigualdade.

A Pandemia do COVID19 em 2020 convoca a humanidade a repensar as formas de exploração dos recursos naturais. O número de mortos decorrente da contaminação é maior entre negros e pobres, em virtude das condições insalubres de sobrevivência, da vulnerabilidade das favelas, da falta de moradia digna e saneamento básico.

A caridade é amplamente relevante e necessária, mas não basta. É preciso levantar a bandeira de luta e exigir políticas públicas que assegure equidade entre os povos. Requerer dos banqueiros novos paradigmas econômicos e limitar os juros abusivos. Cobrar maiores impostos de quem mais possui e acumulam riquezas, por outro lado oferecer a classe trabalhadora condições mais justas e equilibradas para o uso do crédito.

É urgente a necessidade de repensar esta logística de consumo e esse padrão de felicidade alicerçada no consumismo irracional e da caridade amaciadora de egos. Ou inauguramos um novo modelo de civilização ou vamos sucumbir na barbárie nossa de cada dia.

Por um mundo equitativamente justo, façamos caridade, mas, não vamos nos omitir da luta por cidadania e dignidade. “Qual é a nossa parcela de responsabilidade nesta desordem que tanto nos queixamos?“

 


Fabiana C. Moura

Pedagoga, Neuropsicopedagoga, 

Mestra em Educação Científica, 

Especialista em Direitos Humanos e Democracia

 

 

 



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