segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Para minha avó...Saudades

 



Minha avó partiu deste plano dia 20 de outubro. Deixou em nós marcas profundas de saudades. No dia, 30 de dezembro, atuando como voluntária no Instituto Diego Santos, conheci uma idosa que foi acolhida em situação de vulnerabilidade total, efeito das condições econômicas e pelo impacto dos alagamentos na área total do local em que reside, o Mandacaru 1 e 2, decorrente das chuvas no de 24 a 26 de dezembro na Bahia . 
Quando olhava em seus olhos, escutava o relato das suas dores, rememorei a vida da minha avó. Edelzuita Maria, ou simplesmente Delza. Uma mulher destemida, conheceu de perto  escassez, enfrentou as opressões machistas num contexto marcado pelos silenciamentos e subalternização de mulheres negras. 
Escrevo neste lugar, para que no  futuro, ou quando meu corpo  não mais estiver presente neste plano, a posteridade, especialmente, minhas filhas, saibam sobre nós, nossas raízes ancestrais. Como diz Dona Sueli Carneiro, " Nossos passos vêm de longe." 
O Travessias é um blogue, um território onde registro algumas histórias, vivências, percursos. Nasceu em 2020, ano da Pandemia do Corona vírus. Acredito que a escrita é processo de autocura. Quando escrevo sobre minhas, nossas, experiências, dores, alegrias que nos atravessam, me reconecto com minha ancestralidade.
Nos olhos de uma idosa revisitei memórias de uma vida compartilhada com Dona Delza. Apesar da escassez e das dificuldades... Lembro-me do café no cair da tarde filtrado em coador de pano, feito no fogão de lenha, a banana  assada na chapa , o andú cozido com carne seca, os pedaços de charque marcados com palito que eram os reservados para atender minhas preferências,  como era gostoso, principalmente pelo modo de dizer: "eu te amo, tenho admiração." 
Ela estufava o peito para dizer, minha neta é formada, eu não aprendi fazer um "O" com a garrafa. Eu fui a primeira do nosso núcleo familiar com formação universitária, consequência das condições sociais que criam obstáculos para que a juventude pobre e periférica alcance o Ensino Superior completo.
Honro minhas ancestrais, minha mãe, avó, tias. Sou grata por todos os esforços, ensinamentos, acolhimento, amor.
Escrevo pois a escrita me cura. Vivo em Estado de Poesia.

Professor da Rede Estadual é semifinalista do Prêmio Oceanos

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