terça-feira, 15 de dezembro de 2020

A quem serve o olavismo no Brasil?

 

         


Biografia de Olavo de Carvalho?  

 

Caros leitores e leitoras, se você chegou até aqui... Parabéns! Seja olavista, terraplanista, curioso, conhece ou leu alguma “obra”, gosta e ama o grande pensador Olavo de Carvalho, sinto muito te decepcionar, mas, o tal guru é uma verdadeira sabotagem da Ciência, uma assassinato a epistemologia e sobretudo da vida prática de qualquer cidadão, pois, milita contra a dignidade humana e direitos fundamentais. É uma fake filosófica.

Relendo algumas obras clássicas de Paulo Freire sinto-me convocada a recontar esta história. Visitando os baús de memórias freireanas e revirando os tecidos, linhas que costuraram um legado vivo, apresento-te, Paulo Freire!

Quem é Paulo Freire? Que importância têm sua teoria, sua proposta pragmática para a educação, sua leitura de mundo e práxis que extrapola perspectivas minimalista do “método”?

Paulo Reglus Neves Freire nasceu no dia 19 de setembro de 1921, em Recife (PE), filho de Joaquim Temístocles Freire e de Edeltrudes Neves Freire. Foi casado com Elza Maia Costa Oliveira, com quem teve cinco filhos. Após ficar viúvo, casou-se com Ana Maria Araújo Freire.

Aos 22 anos de idade ingressou na Faculdade de Direito de Recife. Na mesma época, durante o curso, iniciou sua caminhada na docência no Colégio Oswaldo Cruz, onde estudou na adolescência. Entre os anos de 1947 e 1954, trabalhou no Serviço Social da Indústria (SESI) como diretor do setor de educação e cultura, no SESI construiu suas primeiras experiências com a educação de adultos, logo foi nomeado como superintendente da instituição de 1954 a 1957.

Concomitante com a carreira no SESI, Paulo Freire assumiu vários cargos públicos. Dentre eles em 1956, foi nomeado membro do Conselho Consultivo de Educação do Recife e em 1961, diretor da Divisão de Cultura e Recreação do Departamento de Documentação e Cultura de Recife.

E o Ensino Superior?  O primeiro contato com a educação superior foi lecionando Filosofia da Educação na Escola de Serviço Social da Universidade do Recife. Em 1959, concluiu o doutorado em Filosofia e História da Educação, sendo nomeado nesse mesmo ano professor efetivo de História e Filosofia da Educação da Escola de Belas Artes. No início da década de 1960, foi um dos fundadores do Movimento de Cultura Popular da capital pernambucana.

No ano de 1963, foi nomeado pelo governador de Pernambuco, Miguel Arraes, um dos conselheiros do Conselho Estadual de Educação, um pioneiro na atuação como conselheiro no estado. Os conselheiros foram responsáveis pela elaboração do primeiro regimento do orgão, concluído em março de 1964. No mesmo período atuava em Brasília engajado na construção do Programa Nacional de Alfabetização, quando o Regime Militar depôs o presidente João Goulart no dia 31 daquele mês. Miguel Arraes e o vice-governador do Pernambuco foram presos, no contexto Paulo Guerra, empossado no governo estadual, afastou Paulo Freire do Conselho Estadual de Educação.

Sua pedagogia crítica apontou perspectivas para consolidação do  método de alfabetização reconhecido internacionalmente como Método Paulo Freire. A proposta de um alfabetização problematizadora da realidade aponta para a importância da leitura além da decodificação da palavra, mas, como intepretação das questões sociais relevantes para o contexto de vida do alfabetizando. Freire destaca em Pedagogia do Oprimido a necessidade de uma educação que supere o sectarismo e o fatalismo ideológico. Não basta ler que “Eva viu a uva”, enquanto o cotidiano de aprendentes operários fome e escassez são elementos do seu contexto objetivo.  A formação de sujeito para o protagonismo de sua desalienação e conscientização implica na capacidade de questionarem suas próprias condições socioeconômicas.  A criticidade para compreender que a vida em sociedade é carregada de contradições, desmitificação da pobreza, desnaturalização das injustiças sociais são cernes da Educação como Prática de Liberdade e da Pedagogia do Oprimido.

Freire taxado de subversivo pelos militares, foi preso logo após o golpe permanecendo em detenção por 72 dias. Após liberação da prisão política em decorrência da Ditadura Militar, foi obrigado a deixar o Brasil, passou a residir no Chile. Trabalhou no Instituto Chileno para a Reforma Agrária. No exílio Freire escreveu  as obras que considero clássicos, Educação como prática da liberdade (1967) e a sua principal obra, Pedagogia do oprimido, publicada em espanhol, inglês em 1970, em português somente em 1974.

Em 1969, fixou-se nos Estados Unidos, lecionou na

Universidade de Harvard. Passou a morar em Genebra, em 1970, como consultor especial do Departamento de Educação. Na década subsequente atuou também em consultorias educacionais em diversos países no continente africano, retornou ao Brasil em 1980, filiou-se ao Partido dos Trabalhadores (PT) e então tornou-se professor na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e na Universidade de Campinas até 1990.

Na gestão da prefeita Luisa Erundina, do PT, entre 1989 e 1991 ocupou o cargo de Secretário de Educação do Município de São Paulo, no mesmo ano foi reintegrado ao posto de diretor do Serviço de Extensão Cultural da Universidade Federal de Pernambuco, foi exonerado e expulso em 1964 pela ditadura militar, um regime marcado pela repressão das teorias críticas, prisão e morte de professores, estudantes, artistas ou qualquer que questionasse ou discordasse da conjuntura política. Os detidos eram acusados de comunistas, arruaceiros, semeadores da desordem e do caos.  

Freire aposentou-se em 1991, quando foi criado em São Paulo o Instituto Paulo Freire. Sua travessia terrena encerrou seu ciclo em 2 de maio de 1997, em São Paulo,  exatamente no ano em que ingresso no 1º ano do Magistério de Nível Médio no Instituto de Educação Regis Pacheco, em Jequié e a Professora Cássia Brandão nos apresenta Paulo Freire, sua obra e seu legado histórico.

Sua biografia e legado consolida-o com uma das maiores personalidades da educação no Brasil e no mundo. Freire reconhecido mundialmente, foi homenageado, premiado por sua ação educacional política e humanitária recebendo  em diversos lugares do mundo, é um dos teóricos mais citado em trabalhos acadêmicos.

A dialogicidade da educação envolve a investigação da realidade, preparação dos homens para o plano da ação, para lutar contra os obstáculos que limitam seus próprios processos de humanização (FREIRE,2019).

Paulo Freire é um legado vivo, e quem é Olavo de Carvalho? A quem serve a exaltação do "mito", do salvador da pátria e o seu pseudomoralismo? 

Exorcizar no Brasil os demônios do fascismo que sempre assombram as democracias requer uma unção homeopática com óleo da educação como prática de liberdade, uma pedagogia autônoma consolidada com saberes necessários à prática educativa, elaborados por quem realmente entende de educação. O melhor método é tecido da práxis que se forja nos saberes que nascem da " Escola da vida: Chão nosso de cada dia."


FREIRE, Paulo (1921-1997) Pedagogia do Oprimido, - 71, ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2019)


Fabiana Correia Moura, Pedagoga, Mestra em Educação Científica e Formação de Professores, Especialista em Direitos Humanos (UESB), Coordenadora Pedagógica no Colégio da Polícia Militar Professor Poeta Luís Neves Cotrim

 


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