terça-feira, 16 de junho de 2020

Travessias: Educação na Pandemia

Reflexões sobre Educação em Contextos de Quarentena e Isolamento Social Refletindo sobre o rumo que a humanidade precisou tomar nesta pandemia e dos desdobramentos deste fato na educação pensei muito sobre a minha caminhada pela escola e como este espaço é vital em nossa construção humana. Lembro-me da infância marcada por uma ânsia de falar, questionar a realidade e meu pai muitas vezes me repreendia: - “você é muito respondona”... e de fato era, por questionar, requerer direitos, reivindicar espaços, sempre acreditei que viver era desafiar as circunstâncias, minhas professoras valorizavam esta característica peculiar. Minha família? Éramos cinco, meu pai, Paulo Vidal de Moura, minha mãe, Zenaide Santana Correia e as irmãs, Andreia, a caçula, Gabriela, a irmã do meio, a que carrega a síndrome do nome eternizada por Jorge Amado e que virou Modinha para Gabriela por Dorival Caymmi. O meu posto era o da irmã mais velha, Meu pai era analfabeto, mal escrevia o próprio nome, minha mãe estudou até a antiga quarta-série e sempre se orgulhou de ter "alfabetizado" as filhas antes de iniciar a escolarização, era muitas leituras, contações de histórias, a risca seguindo a velha cartilha amarelada que ganhou do filho da antiga patroa. Eu acredito que ela foi a minha principal inspiração pela opção em cursar o magistério e iniciar minha trajetória pela profissão docente em 1997. Me remeto sempre ao discurso do Patrono da Educação Brasileira, o Mestre e Educador Paulo Freire, na entrevista concedida à revista italiana Terra Nuova , Freire descreve sua experiência pessoal, sua compreensão sobre o processo de tornar-se educador, afirmando que: “Ninguém começa a ser educador numa certa terça-feira às quatro horas da tarde. Ninguém nasce educador ou marcado para ser educador. A gente se faz educador, na prática e na reflexão sobre a prática”. Hoje, passados vinte anos de caminhada profissional na educação, passando pela rede privada, rede pública, da Educação Infantil a Universidade, eu nunca enfrentei um contexto como atual. Uma pandemia alastrada pelo planeta colocou a humanidade no movimento inverso da vida cotidiana, o isolamento em casa, com exceção dos serviços essenciais e principalmente os profissionais da saúde. Já a escola precisou fechar as portas para garantir segurança e saúde a sua comunidade e a população em geral, os decretos publicados numa sexta-feira, 20 de março de 2020, no Estado da Bahia decretou a suspensão das aulas na rede pública e privada. As recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) para que a curva de contaminação do vírus fosse controlada evitando um colapso ainda maior como superlotação dos leitos hospitalares e UTIs foram a quarentena e o isolamento social. Uma inquietude surgiu, as escolas reuniam-se virtualmente na tentativa de criação de estratégias remotas para manter o vínculo com os estudantes, potencializar a atividade cognitiva e fortalecer os laços entre as famílias e a escola. As escolas publicas , Secretarias Municipais e Estaduais de Educação traçaram seus planos de ação considerando que aulas remotas seria incompatível com a realidade da rede pública visto que, um percentual significativo de estudantes não teria acesso a internet, smartphones. As comunidades rurais, ribeirinhas, periferias, não poderiam em sua maioria acessar aulas e muito menos criar uma agenda de estudos paralela muitas vezes, a rotina da fome, da doença, da escassez, da miséria, violência e morte que assolam e marginalizam as minorias sociais neste país em pleno século XXI. As escolas da rede privada então negociaram com as famílias, algumas suspenderam mensalidades da Educação Infantil, outras ofereceram descontos de até 80% e criaram alternativas por meio de canais no youtube, plataformas virtuais e contratos assinados como Google for Education. Por outro lado, um movimento foi crescendo ao ponto de plataformas de ensino cujos donos são as grandes multinacionais, que tratam a educação como mercadoria, espalharem ou melhor, venderem a ideia que “na crise, toda educação será online,” comercializam pacotes prontos, enlatados, a lógica do mercado financeiro , assegurar o lucro acima de tudo e de todos, perpetuando a desigualdade e a exclusão. Comungo do entendimento que estratégias de motivação e engajamento são de suma importância para o que for possível alcançar. A entrega de atividades impressas, apostilas junto com os kits de alimentação escolar (cestas-básicas) alternativas que emitam ao estudante a mensagem “ Estamos juntos, nos importamos com vocês, de fato não soltaremos as mãos, ainda que os laços sejam meramente virtuais. Acredito que, nada substitui a presença física, interação, a troca, a sinestesia do olhar, da audição, da criatividade, do calor humano. Neste momento a nossa melhor estratégia, é a que presa pela manutenção da saúde biopsicossocial e manutenção da vida. Superada esta travessia, a pandemia controlada, uma vacina testada e aprovada, a população imunizada “com fé em Deus”, e a vida nos oportunizar os encontros, o diálogo olho no olho, a soma dos melhores afetos e abraços, podemos então juntar as mãos solidárias e os cérebros criativos para reinventar a vida, os sonhos e as possibilidades, fazendo vivo o legado freireano, a educação como práxis libertadora, como instrumento de luta por equidade e justiça social. Portanto, se for possível, fica em casa. O caminho da resistência assertiva nesta travessia é a “pedagogia da esperança” no reencontro contínuo da “pedagogia do oprimido”. Paulo Freire, Presente. Fabiana Correia Moura, Pedagoga, Mestre em Educação Científica, Especialista em Direitos Humanos, Neuropsicopedagoga, Palestrante e Coach Educacional Meu Dever de Casa.

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