quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Magnólia: Das Mulheres que me atravessam

 


Da série “Mulheres que habita em mim” a maravilhosa geógrafa, mãe, professora e ativista Magnólia Gomes é mais que uma colega de trabalho, é uma daquelas mulheres que a vida nos apresenta como uma verdadeira irmandade. Acredito que advém da ancestralidade comum, um encontro de histórias em seus ciclos no tempo. Em uma das nossas conversas sobre nossos atravessamentos nesta Pandemia, ela me responde com uma mensagem de força e esperança.

“Pensando seriamente sobre esta pandemia, cheguei a seguinte conclusão: que realmente “A vida é uma sucessão de sucesso e insucessos que se sucedem sem cessar". Onde infelizmente também passamos por situações adversas como esta de agora e descobrimos que não estamos preparados para enfrentar tamanha dificuldade, mas, que precisamos buscar dentro de nós mesmas resiliência para darmos continuidade a nossa história.

E como uma fênix, precisamos criar forças para ressurgir das cinzas dessa pandemia, buscando uma nova forma de vida mais tranquila, menos corrida, voltada para a família e para Deus. Nos enchendo de mais empatia, humildade e com mais esperanças de dias melhores.

Tudo passa e essa tempestade vai passar e vamos retomar as nossas vidas com um olhar mais humanizado e mais solidário, no que diz respeito a tolerância, empatia e  enfrentamento as desigualdades sociais.”

Magnólia Gomes, Geógrafa, Artesã, Professora da Rede Estadual da Bahia, Presente!


quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Travessias Formativas: Edigar Morin e Aillton Krenak



Entre “Um Festival de Incertezas” e “Ideias Para Adiar o Fim do Mundo”

 

Refletir sobre a natureza complexa da vida e da existência humana não é um exercício minimalista, ou simplório. Nem sempre estamos preparados para o mergulho interior necessário para nos provocar a pensar e desconstruir verdades que considerávamos inabaláveis. Nós estudamos História e observamos os cenários devastadores das guerras como espectadores diante de um filme.  Sinto que minha geração, em sua maioria, não conseguimos sentir cortar a nossa própria carne e nem consideramos isso necessário. 

Perante a leitura do artigo “Festival de Incertezas”, e esta fala fortemente provocativa como todo constructo filosófico de Edgar Morin:

 

"É TRÁGICO que o pensamento disjuntor e redutor

reine soberano em nossa civilização

e detenha

o comando tanto na política e na economia." 

 

 Questiono-me, qual é o meu, o seu, o nosso papel como protagonistas das incertezas e do caos? Remeto-me a obra do Ailton Krenak, Ideias Para Adiar o Fim do Mundo, penso, em que momento nos distanciamos tanto da nossa condição de humanidade? Pergunto-me que espécie de " humanidade" é essa defendida pela perspectiva imperialista, neoliberal  e excludente.

Nosso tempo é especialista em criar ausências: do sentido de viver em sociedade, do próprio sentido da experiência da vida. Isso gera uma intolerância muito grande com relação a quem ainda é capaz de experimentar o prazer de estar vivo, de dançar, de cantar. E está cheio de pequenas constelações de gente espalhada pelo mundo que dança, canta, faz chover. O tipo de humanidade zumbi que estamos sendo convocados a integrar não tolera tanto prazer, tanta fruição de vida. Então, pregam o fim do mundo como uma possibilidade de fazer a gente desistir dos nossos próprios sonhos. E a minha provocação sobre adiar o fim do mundo é exatamente sempre poder contar mais uma história. Se pudermos fazer isso, estaremos adiando o fim (KRENAK,2019)

Estamos dispostos a nos alistar na luta por justiça social e equidade? Estamos abertos a sonhar, dançar na chuva, escutar o som da mãe terra? Somos formados para planejar nossos currículos com emaranhados de conteúdos para uma realidade de incertezas? Nos questionamos, como o conhecimento científico ganha sentidos e significados em pleno “FESTIVAL DE INCERTEZAS”? É possível reconhecermos a ciência como caminho para nossa humanização, de transformação social e produção de novos estilos de vida, de consumo, de produção? 

 

“Esta é a ocasião para compreender

que a ciência, diferente da religião,

não tem um repertório de verdades absolutas

e que suas teorias

são biodegradáveis sob efeito

de novas descobertas “

 

A Educação para o século XXI, mais especificamente o espaço escola precisa se constituir como Residência de Aprendizagem Colaborativa, espaços multidisciplinares de estudos de caso, pesquisa, leitura, construção do conhecimento científico, contação de história, danças, canais no youtube etc, tudo que a criatividade humana for capaz de desenvolver numa perspectiva holística e integradora,  mas, sabemos que não basta reconfigurar o espaço-escola, é preciso fortalecer como princípio básico uma nova estrutura econômica e política.

Pensar a economia por outras perspectivas envolve caminhos que perpassam por uma educação para conhecer o neoliberalismo em seus efeitos nefastos. Reconfigurar os padrões de consumo, os iderios de riqueza, o conceito capitalista de felicidade.  Para tanto, é necessário nos educar interiormente para promover ambientes catalizadores de aprendizagem e engajamento,  para a  construçao de novos cenários, assim pode ser que seja possível, "Adiar o fim do mundo" apesar do cotidiano nos colocar sempre frente a este "Festival de Incertezas."

 

"Na carência dos poderes públicos, identifica-se também uma profusão de imaginações solidárias: produção alternativa para a falta de máscaras por empresas reconvertidas ou por confecções artesanais, reagrupamento de produções locais, entregas gratuitas em domicílio, ajuda mútua entre vizinhos, alimentação gratuita aos sem-teto, cuidado das crianças. A mundialização criou uma interdependência, mas sem que tal interdependência fosse acompanhada de solidariedade”

 

Em suma, como nos propõe Ailton Krenak, Certamente os povos indígenas e tradicionais podem nos guiar através de sua experiência, não apenas de sobreviver, mas de reconstruir pela natureza a orientação para a vida, “uma nova humanidade” Penso que a educação em redes colaborativas e a economia solidária apresentem-nos novos mundos possíveis.

 

KRENAK, Ailton. Ideias para Adiar o Fim do Mundo. Companhia das Letras. São Paulo, 2019.

Esta edição eletrônica do livro Um Festival de Incertezas de Edgar Morin foi produzida no dia 21 de abril de 2020 pela editora Gallimard.Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/599773-um-festival-de-incerteza-artigo-de-edgar-morin


Fabiana C. Moura
Pedagoga, Psicopedagoga, Mestra em Educação Científica, Especialista em Direitos Humanos e Democracia, 
Coordenadora  Pedagógica da Rede Estadual de Educação - Bahia
Professora da Rede Municipal de Poções

Professor da Rede Estadual é semifinalista do Prêmio Oceanos

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