Em
todo o transcurso da história da humanidade, com o evoluir da ciência e da
tecnologia, a divisão social do trabalho consolidamos novas formas de habitar,
comer, vestir-se, enfim a forma de existir da humanidade registrou mudanças
cada vez mais impressionantes que marcam a sua existência, com uma diversidade
de origens, saberes, pensamentos e culturas bem distintas. Confrontados pela
necessidade de se alimentar e proteger-se dos fenômenos naturais como chuvas,
tempestades os seres humano sentiram que precisavam viver em cooperação, em
sociedade.
A
historiografia destaca o surgimento da escrita e a instituição da propriedade
privada como elementos fundamentais na construção da lógica civilizatória do
mundo ocidental, principalmente no instante em que o homem torna-se sedentário
e agricultor. Assim a sociedade organiza-se verticalmente, cria-se um estado
proprietário de terras e líderes, iniciando uma espécie de submissão,
registrada inicialmente por diversos historiadores como espécie de servidão
coletiva.
A
feira é um espaço que carrega, a princípio, a competência de desenvolver
atividades puramente econômicas, de subsistência das famílias, entretanto, no curso
da história, com a evolução da agricultura e do comércio, as feiras são
estabelecidas e consolidadas como artefato cultural. As feiras livres são modelos
primários de comercialização de produtos desde o simples escambo, troca de
mercadorias, ao mais variado comércio.
A feira livre é um
dos modelos mais antigos de comercialização de produtos que resiste e persiste
em pleno século XXI.
As
feiras nasceram demanda natural de um espaço que reunisse todos os produtos
necessários ao consumo; é neste contexto de trocas e de diversidade que um modo
próprio de comprar e vender faz da feira-livre um ponto de encontros, de
trocas, de conversas, petiscos e para muitas pessoas, é curativo.
A
feira-livre em minha vida é uma travessia que marca minha existência. Aos 11
anos de idade nossa família enfrentava muitas dificuldades financeiras. Meu pai
era artesão, autônomo e estava doente, não tinha nenhuma seguridade social, e
logo, ficamos praticamente sem renda. A nossa vizinha Dona Maria, quem aprendi
chamar de Baía quando bem pequenina, por não conseguir falar Maria que nos
deixou em 2014 para seguir para o plano celestial, ela assim é em nossa família,
uma mãe, uma companheira de lutas, daquelas Marias que impulsionam outras Marias a construir seu caminho, por ela e
tantas outras Marias em minha vida, dei a uma das minhas filhas o nome de
Maria. Ela era feirante, e levou a minha mãe para trabalhar com ela. Naquela
sexta-feira minha mãe enfrentou os preconceitos, os olhares e opiniões contrárias,
inclusive do meu pai, e lá fomos para a feira, comercializar cafezinho, pão,
mingau de milho verde, mungunzá etc. o melhor cuscuz deste mundo, pelas mãos de
Dona Zenaide.
Firmamos-nos
na feira, conquistamos não apenas uma freguesia, mas cultivamos amizades e
construímos uma família. Em 1999, meu pai faleceu. A feira nos abraçou e nos
acolheu como uma família faz. Nesta época conclui o magistério e senti que
precisava prosseguir, no ano 2000 comecei trabalhar, mas continuei na feira aos
sábados, buscava uma oportunidade na educação, até que substituindo uma
professora amiga, numa escola particular, surgiu a oportunidade no ano seguinte,
e de 2001 a 2004 a Escola Vamos Aprender foi a primeira oportunidade.
O Centro de
Abastecimento Vicente Grilo foi uma grande escola na minha vida.
Hoje
a minha irmã caçula Andreia, continua trabalhando, a Lanchonete Árvore da Vida
continua no mesmo lugar. Dona Zenaide ainda faz o cuscuz de puba, o mingau de
milho-verde mais delicioso, o arroz doce que é um manjar dos deuses e a
farofinha de carne com café que tem um toque especial.
Escrever
sobre o Centro de Abastecimento Vicente Grilo é resgatar minha própria
história. Tenho esperança que o poder público revitalize a feira e implante um
sistema de gestão socioambiental em parceria com a Cooperativa de Catadores de
Material reciclável de Jequié.
Meu
sonho é um dia poder olhar para a o CEAVIG como um espaço gerador de renda
sustentável, comprometido com o cuidado com o meio ambiente e um vetor de manifestações
culturais e integração de pessoas.
Jequié
merece uma feira-livre que congregue sua identidade, sua história. O CEAVIG em
Jequié é uma escola onde aprendi os maiores e melhores ensinamentos da minha
vida.
Fonte: Arquivos de pesquisa (2010)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seus comentários e em breve responderemos.