domingo, 26 de julho de 2020

Universidade Emancipa, Entender o mundo hoje: pandemia e periferias





A Rede Universidade Emancipa nos proporcionou uma jornada de formação com a temática “ Entender o mundo hoje, realizado de 5 de maio a 7 de julho de 2020 pela Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e pela Universidade Emancipa, por meio de videoconferências com Carga Horária de 20 horas debatendo diversos temas.

 

 Começamos refletindo O que a crise do coronavírus ensina sobre o capitalismo? ministrada por Ladislau Dowbor,  Professor titular da Economia da PUC-SP, Verónica Gago, Professora de Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires (Argentina), entre outros temas, estudamos ainda A necropolítica no Brasil ontem e hoje com Rosana Pinheiro-Machado, Professora de Ciências Sociais da Universidade de Bath, Inglaterra e Silvio Almeida, Professor de Direito da Universidade Mackenzie, passando por outras questões, amplamente significativas, encerramos estudando e nos provocando a como pensar a educação em tempos de pandemia? O debate feito por Nívea Vieira, Professora de Educação da UERJ, Alvaro Bianchi, Professor de Ciência Política da Unicamp, Maurício Costa, Coordenador de Formação da Rede Emancipa.

 

Após esta jornada de estudos e composição de uma análise daquilo que foi possível me apropriar e revisitar as memórias freireanas, da Pedagogia do Oprimido dentre outras leituras atreladas a uma vida de luta, de estudos tento trazer neste texto reflexões e inquietações sobre a naturalizada “mão invisível do mercado” que regula nossas vidas, a política, a economia, a educação, a arte, e por fim, as relações humanas. Confrontamos-nos com o desafio de pensar: quem somos, como nos constituímos, quem eu sou na minha subjetividade e na intersubjetividade que compõe o eu indivíduo e o eu que se produz e projeta-se nas relações.  

 

O mundo estava assentado no seu trono de arrogância, e a pandemia demonstrou que não somos tão avançados como pensávamos ser. O modelo econômico globalizado, o paradigma civilizatório elabora de modo sutil e ao mesmo tempo agressivo uma ideia simplória de racionalidade, estamos seduzidos pelo ter em detrimento do ser ou do ter como projeção direta do ser.

A pandemia aprofundou a gravidade dos problemas socioeconômicos, fato! No mesmo ensejo escancarou a realidade nua e crua: uma pandemia de exclusão, de controle totalitário, de reprodução das desigualdades, da destruição da fauna e da flora.

Enquanto abrigamos na Mãe Terra o padrão de consumo para pequena parcela da sociedade com mansões de três andares, área gourmet, piscina, três veículos na garagem, viagens, fazendas etc... é o mesmo planeta que abarca uma família com dez pessoas abrigadas em barracos de madeira de quatro metros quadrados. Falta saneamento básico, água potável e condições mínimas de sobrevivência para estas famílias.

A palavra de ordem é consumir, e na mesma logística, derrubar matas, matar rios, destruir florestas, extinguir espécies animais, explorar o solo, produzir armas nucleares, não tolerar o diferente, naturalizar desigualdades, a escravidão, o racismo.

 Um jovem numa aula virtual de História, questionou-me:  "Professora, mas não é assim desde que o mundo é mundo?"

É este o pensamento naturalizado e cauterizado no imaginário da juventude para tolher seu protagonismo e sua capacidade de luta. Nas representações sociais sobre Trabalho, Vida e Consumo, está consolido o entendimento de que a exploração do planeta até a sua ultima gota de vida é necessário para atender as demandas do mercado, do consumo, da lei da procura e da oferta. O discurso meritocrático apregoa o sucesso como questão de escolha. Trabalhe, esforce-se e encontrará seu lugar ao sol, independente de oportunidades ou políticas, públicas. É ridículo!

A força de trabalho continua sendo vendida para garantir o mínimo, a mistura, a ração, talvez no pacote consiga adicionar internet e o smartphone.

Nos oprimem e cauterizam nosso imaginário, não podes questionar os eleitos de “ deus”, colocados no poder, ainda que revogue direitos da classe trabalhadora. Eles servem para reafirmar o neocolonialismo, o totalitarismo, cuja ordem é consumir, endividar-se, pagar tributos, manter a pirâmide social rígida: ricos cada vez mais ricos, pobres cada vez mais pobres.

A Economia Neoliberal, a política partidária aliada ao mercado econômico, os neocolonialistas, os grandes empresários ditam as regras do jogo. “Os Podres Poderes” continuam valendo-se do descarte da vida, do racismo estrutural, da violência aos LGBTs, do assassinato de jovens negros, da exclusão do povo negro, , da diferença salarial entre homens e mulheres, do machismo e do feminicídio, em suma, estes elementos constituintes da necropolítica, são as matrizes  do mercado globalista e das “democracias neoliberais”

Como poetizou Caetano Veloso

“Enquanto os homens exercem

Seus podres poderes

Morrer e matar de fome

De raiva e de sede

São tantas vezes

Gestos naturais(...)



( Por Fabiana Moura, Pedagoga, Mestra em Educação Científica e Formação de Professores, Especialista em Gestão Ambiental, Pós-graduada em Direitos Humanos e Democracia, Coordenadora Pedagógica da Rede Estadual da Bahia, Professora da Rede Municipal de Poções-Bahia)


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