Roda
de Conversa – IFBA Jequié
A
Importância das Pesquisas em Educação
Por Fabiana Correia
Moura
Pensar, dialogar, sentir a
Pesquisa em Educação é exercício de construção de saberes que perpassa pela
nossa constituição como gente, ser pessoa. Não compreendo a pesquisa como
processo linear e empírico, não somente pelo mar de teorias e epistemologias que
deixam evidente que não há neutralidades ou imparcialidades no ato de
pesquisar, ainda que pela racionalidade tecnoprática, existe em nós as marcas,
ou notas da experiência, vida, desejos, latentes, pulsantes. Abstrações que
como diria Gaston Bachelard, a matematização não daria conta de significar esta
manifestação da vida que se consagra no ato de conhecer. É uma espécie de
gestação, somos fecundados por um saber embrionário, que se expande, causa
desconforto, é doloroso, rasga e sangra... é um parto.
Quando convidada por Elane
Nardotto, para fazer parte da mesa, me emocionei, sim, ocupar um espaço de
diálogo, protagonismo, narrativa em partilha sob a benção do espírito da
comunidade, me faz sentir-me honrada, sobretudo por ter participado de algumas
bancas de defesas destes trabalhos, pela leitura ainda que flutuante do livro
digital que carrega em suas páginas o caldo saboroso, temperado, com
ingredientes bem selecionados por quem sabe o que é o Chão da Escola.
O Chão da Escola,
pesquisa-formação, pesquisa-ação, são costuras sempre tecidas ultimamente, e
neste movimento estou me descobrindo nos diálogos sobre autoformação, neste
lastro me proponho a pensar sobre quem sou, as intersubjetividades que me tocam
neste movimento de ser e viver o cotidiano deste lugar-mundo-educação.
Larrosa nos convida a
questionar os sentidos e significados que temos construído no exercício da
docência. Que nem sempre o melhor argumento, a narrativa aparentemente mais
interessante é embebida pela experiência-palavra-vida. Talvez, seja este o
nosso maior desafio. O pluriverso se constitui pela palavra.
“Eu creio no poder das
palavras, na força das palavras, creio que fazemos coisas com as palavras e,
também, que as palavras fazem coisas conosco. As palavras determinam nosso
pensamento porque não pensamos com pensamentos, mas com palavras, não pensamos
a partir de uma suposta genialidade ou inteligência, mas a partir de nossas
palavras. E pensar não é somente “raciocinar” ou “calcular” ou “argumentar”, como
nos tem sido ensinado algumas vezes, mas é sobretudo dar sentido ao que somos e
ao que nos acontece.
Somos constituídos a partir
da energia do pensamento que se torna comunicável ao mundo externo. Nossos
discursos são carregados de subjetividades, logo, de experiência, mas, que
experiência, qual experiência?
Larrosa nos diz que “A
experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se
passa, não o que acontece, ou o que toca. A cada dia se passam muitas coisas,
porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece.”
Parafraseando Alan Chalmers
em O Que é Ciência, afinal, questionando os paradigmas, suas estruturas, sua
rigidez, flexibilizações, incompletudes, estruturalismos. Trago na mesm guisa reflexiva:
O que é Pesquisa, afinal? Que importância tem a pesquisa em Educação? Seja no
campo da Formação de Professores, nos debates sobre currículos, nas análises de
sequências didáticas, nos estudos em Educação Inclusiva, Gênero, Sexualidade, Educação
para as Relações Étnico-raciais. A pesquisa é uma perspectiva de análise sobre
a realidade, por meio dela aguçamos os olhares pluriversos, redimensionamos as
lentes de análise, contribuímos com a construção de saberes, conhecimentos,
aportes teóricos que pulverizam práxis, por vezes, limitadas, destoantes,
contraditórias. E o que somos na vida? A tessitura dos paradoxos,
inacabamentos, inconclusão. Como diz Larrosa, somos sujeitos expostos pela
experiência.
O ato pesquisante, formativo
extrapola o problema, a justificativa, os objetivos, o referencial teórico, a
metodologia e as referências bibliográficas, o texto escrito é o recorte de uma
experiência muito mais ampla, carregadas de leituras, debates, discussões,
inquietações, medos, desânimo, resiliência, coragem, autonomia, colaboração,
sororidade, re(existências), como diz Elane antes da pesquisa, a vida acontece.
Proponho outras tecelagens,
escrutínios do ser/existir/pensar/devir...
O E-book Formação Docente e
Práticas Pedagógicas, não apresenta somente novas teorizações ou modelos
didáticos, mas, propõe construção de novas travessias, perspectivas, propostas
para o fazer didático, forjar sentidos outros para o fazer docente e a escola,
pela emergência da Pesquisa Científica como espaço de todos, principalmente,
nós docentes da educação básica.
As problematizações e
teorizações postuladas para este e-book, como evoca bell hooks, é um chamado
imperativo para transgredimos os modelos e transitarmos das margens ao centro. É
sobre amorosidade revolucionária.
As Pesquisas em Educação
cooperam para construirmos caminhos entre a rigorosidade metódica e a
curiosidade intelectual que move o sujeito cognoscente como propõe Paulo
Freire.
“A rigorosidade intelectual
e o exercício da curiosidade epistemológica não podem nos tornar um fatalista
sobre a realidade, ou assumir uma postura arrogante. A mentalidade
científica é um movimento que se desenha em costuras e alinhavos diversos. Entre unidade da Ciência e a teia complexa do
conhecimento de leis que regem a órbita do universo, possamos cocriar condições
para formar cientistas e gentes, gentes e cientistas.”
Fabiana Moura, Pedagoga, Professora, Palestrante, Mestra e Doutoranda em Educação Científica e Formação de Professores (UESB-Jequié)
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