A Rede Universidade Emancipa nos
proporcionou uma jornada de formação com a temática “ Entender o mundo hoje, realizado
de 5 de maio a 7 de julho de 2020 pela Faculdade de Formação de Professores da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro e pela Universidade Emancipa, por meio
de videoconferências com Carga Horária de 20 horas debatendo diversos temas.
Começamos refletindo O que a crise do coronavírus ensina sobre o capitalismo? ministrada
por Ladislau Dowbor, Professor titular da Economia da PUC-SP, Verónica Gago, Professora de Ciências Sociais da
Universidade de Buenos Aires (Argentina), entre outros temas, estudamos
ainda A
necropolítica no Brasil ontem e hoje com Rosana Pinheiro-Machado,
Professora de Ciências Sociais da Universidade de Bath, Inglaterra e Silvio
Almeida, Professor de Direito da Universidade Mackenzie, passando por outras questões,
amplamente significativas, encerramos estudando e nos provocando a como pensar a educação em tempos de
pandemia? O debate feito por Nívea Vieira, Professora de
Educação da UERJ, Alvaro Bianchi, Professor de Ciência Política da Unicamp,
Maurício Costa, Coordenador de Formação da Rede Emancipa.
Após esta
jornada de estudos e composição de uma análise daquilo que foi possível me
apropriar e revisitar as memórias freireanas, da Pedagogia do Oprimido dentre
outras leituras atreladas a uma vida de luta, de estudos tento trazer neste
texto reflexões e inquietações sobre a naturalizada “mão invisível do mercado”
que regula nossas vidas, a política, a economia, a educação, a arte, e por fim,
as relações humanas. Confrontamos-nos com o desafio de pensar: quem somos, como
nos constituímos, quem eu sou na minha subjetividade e na intersubjetividade
que compõe o eu indivíduo e o eu que se produz e projeta-se nas relações.
O
mundo estava assentado no seu trono de arrogância, e a pandemia demonstrou que
não somos tão avançados como pensávamos ser. O modelo econômico globalizado, o paradigma
civilizatório elabora de modo sutil e ao mesmo tempo agressivo uma ideia simplória
de racionalidade, estamos seduzidos pelo ter em detrimento do ser ou do ter como
projeção direta do ser.
A
pandemia aprofundou a gravidade dos problemas socioeconômicos, fato! No mesmo
ensejo escancarou a realidade nua e crua: uma pandemia de exclusão, de controle
totalitário, de reprodução das desigualdades, da destruição da fauna e da flora.
Enquanto
abrigamos na Mãe Terra o padrão de consumo para pequena parcela da sociedade com
mansões de três andares, área gourmet, piscina, três veículos na garagem,
viagens, fazendas etc... é o mesmo planeta que abarca uma família com dez
pessoas abrigadas em barracos de madeira de quatro metros quadrados. Falta
saneamento básico, água potável e condições mínimas de sobrevivência para estas
famílias.
A
palavra de ordem é consumir, e na mesma logística, derrubar matas, matar rios,
destruir florestas, extinguir espécies animais, explorar o solo, produzir armas
nucleares, não tolerar o diferente, naturalizar desigualdades, a escravidão, o
racismo.
Um jovem numa aula virtual de História, questionou-me: "Professora, mas não é assim desde que o mundo é mundo?"
É
este o pensamento naturalizado e cauterizado no imaginário da juventude para
tolher seu protagonismo e sua capacidade de luta. Nas representações sociais
sobre Trabalho, Vida e Consumo, está consolido o entendimento de que a
exploração do planeta até a sua ultima gota de vida é necessário para atender
as demandas do mercado, do consumo, da lei da procura e da oferta. O discurso
meritocrático apregoa o sucesso como questão de escolha. Trabalhe, esforce-se e
encontrará seu lugar ao sol, independente de oportunidades ou políticas,
públicas. É ridículo!
A
força de trabalho continua sendo vendida para garantir o mínimo, a mistura, a
ração, talvez no pacote consiga adicionar internet e o smartphone.
Nos
oprimem e cauterizam nosso imaginário, não podes questionar os eleitos de “
deus”, colocados no poder, ainda que revogue direitos da classe trabalhadora.
Eles servem para reafirmar o neocolonialismo, o totalitarismo, cuja ordem é
consumir, endividar-se, pagar tributos, manter a pirâmide social rígida: ricos
cada vez mais ricos, pobres cada vez mais pobres.
A
Economia Neoliberal, a política partidária aliada ao mercado econômico, os
neocolonialistas, os grandes empresários ditam as regras do jogo. “Os Podres
Poderes” continuam valendo-se do descarte da vida, do racismo estrutural, da violência
aos LGBTs, do assassinato de jovens negros, da exclusão do povo negro, , da
diferença salarial entre homens e mulheres, do machismo e do feminicídio, em
suma, estes elementos constituintes da necropolítica, são as matrizes do mercado globalista e das “democracias
neoliberais”
Como
poetizou Caetano Veloso
“Enquanto
os homens exercem
Seus
podres poderes
Morrer
e matar de fome
De
raiva e de sede
São
tantas vezes
Gestos
naturais(...)
(
Por Fabiana Moura, Pedagoga, Mestra em Educação Científica e Formação de
Professores, Especialista em Gestão Ambiental, Pós-graduada em Direitos Humanos
e Democracia, Coordenadora Pedagógica da Rede Estadual da Bahia, Professora da
Rede Municipal de Poções-Bahia)